Quem vai encarnar Jesus na maior peça religiosa a céu aberto do mundo? Em uma decisão que já está gerando comoção em todo o Nordeste, Dudu Azevedo foi anunciado como o novo Cristo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2026Nova Jerusalém. A revelação, feita em 26 de novembro de 2025 pela Sociedade Teatral de Fazenda Nova (STFN), marca o início de um ano especial: a edição de 2026 celebra o centenário de nascimento de Plínio Pacheco, o visionário que criou o espetáculo em 1968. E não é só o papel principal que chama atenção — o elenco completo é um mosaico de nomes consagrados e promessas da atuação brasileira.
Um Jesus de carreira consolidada
Dudu Azevedo, cujo nome completo é Eduardo Azevedo de Oliveira Filho, não é um ator qualquer. Ele já encarnou figuras bíblicas antes — como Adam em Gênesis (2021) — e tem uma reputação sólida por trazer intensidade dramática a papéis complexos. A STFN destacou em seu comunicado à g1 Caruaru sua "profundidade em papéis de forte apelo dramático", algo que se tornou visível em sua atuação em O Cangaceiro do Futuro (2022). Mas interpretar Jesus é diferente. Não se trata apenas de atuar. É carregar uma expectativa coletiva, uma tradição de 58 anos, e a fé de milhares que vêm a Nova Jerusalém como um lugar de peregrinação. "Ele não é só um ator. É um portador de mensagem", disse um membro da diretoria, sob anonimato. E isso pesa.
O elenco que encarna a história
Por trás de Jesus, está um time de atores que já carregam peso no teatro e na TV. Beth Goulart, com sua voz grave e presença serena, será Maria. A escolha foi recebida com aplausos nas redes sociais — muitos lembraram de seu papel em As Filhas do Vento (2005), onde encarnou uma mãe que perdeu tudo. Já Marcelo Serrado volta ao mundo bíblico como Pilatos, um papel que exige uma dualidade: o poder e a indecisão. Serrado já foi um dos protagonistas de O Clone e América, mas aqui ele precisa ser mais do que um vilão — ele precisa ser humano. E por fim, Carlo Porto, o Herodes. Jovem, carismático, com passagens em A Rainha da Pérsia (2024) e Reis (2022), ele traz uma energia perigosa e sedutora, perfeita para o rei que teme perder o trono.
Um lugar que vive a história
A Nova Jerusalém, em Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, não é um palco qualquer. São 500 metros de comprimento por 200 de largura, com nove cenários reais: a porta de Jerusalém, o Monte das Oliveiras, o tribunal de Pilatos, o caminho do Calvário... O público caminha, literalmente, com Cristo. Desde 1968, ninguém interrompeu a sequência. Nem pandemia, nem crise. Em 2024, foram mais de 10 mil pessoas por noite — e em 2026, a expectativa é superar esse número. O complexo, localizado a 180 km de Recife, é administrado pela STFN, que mantém sua sede na Rua da Paixão, S/N, Centro. É um patrimônio cultural vivo, não apenas religioso.
Centenário e expansão
2026 é mais que uma edição. É um marco. Plínio Pacheco nasceu em 1926. Em abril de 2026, completam-se exatos 100 anos. A STFN planeja uma programação especial: exposições fotográficas, debates com historiadores, e até um documentário inédito sobre a vida do fundador. Mas o coração do espetáculo será o elenco. A produção, que em 2024 contou com 450 atores e 600 voluntários, vai expandir para 500 principais e 700 apoio. Isso significa mais moradores de Brejo da Madre de Deus envolvidos — e mais oportunidades para jovens da região. "Isso aqui não é teatro. É comunidade", disse Maria do Carmo, 72, que participa desde 1982 como figurante.
O que vem depois?
As gravações e ensaios começam em 15 de janeiro de 2026. Os atores terão 60 dias de imersão total na estrutura de Nova Jerusalém — dormindo nos alojamentos do complexo, estudando textos bíblicos, e até participando de retiros espirituais. "Não basta decorar. É preciso sentir", explicou o diretor geral, José Inácio de Melo, desde 2019 à frente da STFN. As apresentações ocorrerão entre 29 de março e 5 de abril de 2026, na Semana Santa, como sempre. E, como sempre, o público seguirá o caminho do sofrimento e da ressurreição, passo a passo, sob o sol do sertão pernambucano.
Por que isso importa?
Porque a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém não é um espetáculo que se vê. É algo que se vive. E quando um ator como Dudu Azevedo assume o papel, ele não está apenas fazendo um trabalho. Ele está assumindo uma herança. Uma tradição que nasceu da fé de um homem simples, que acreditou que o teatro poderia ser um meio de evangelização. Hoje, ela atrai católicos, evangélicos, turistas, estudantes e curiosos de 30 países. Em um mundo cada vez mais digital, onde a espiritualidade é muitas vezes superficial, Nova Jerusalém continua sendo um lugar onde o corpo, o silêncio e o sangue (sim, há efeitos reais) falam mais do que qualquer tela.
Frequently Asked Questions
Quem foi Plínio Pacheco e por que seu centenário é tão importante?
Plínio Pacheco foi um empresário e idealista pernambucano que, em 1968, construiu o complexo de Nova Jerusalém com recursos próprios, inspirado por uma visão religiosa. Ele queria criar um espaço onde a Paixão de Cristo pudesse ser vivida, não apenas assistida. Seu centenário em 2026 é um marco porque ele transformou uma ideia simples em um patrimônio cultural nacional, mantido por décadas sem apoio governamental. Sua herança vive nos atores, nos voluntários e nos visitantes que retornam ano após ano.
Como é o processo de seleção dos atores?
A STFN realiza audição nacional cerca de 18 meses antes da peça. Mais de 2.000 candidatos se inscrevem por ano, mas apenas 500 são escolhidos para papéis principais. O processo inclui testes de voz, movimento, interpretação emocional e resistência física — já que os atores caminham mais de 15 km por noite durante os espetáculos. Candidatos de Brejo da Madre de Deus têm prioridade, mas atores de todo o Brasil podem participar.
Dudu Azevedo já fez papéis religiosos antes?
Sim. Em 2021, ele interpretou Adam na novela bíblica "Gênesis" da Record TV, e em 2022, foi um profeta em "O Cangaceiro do Futuro". Mas interpretar Jesus é um salto. É o primeiro papel que exige uma presença quase sagrada, sem espaço para o teatro convencional. A STFN o escolheu por sua capacidade de transmitir dor e compaixão sem palavras — algo que os diretores viram em suas cenas mais silenciosas.
Quantas pessoas assistem à peça e de onde vêm?
Entre 2019 e 2024, cada noite da Semana Santa atraiu em média 10.500 espectadores. A maioria vem de Pernambuco, Bahia e Ceará, mas há grupos de Portugal, Estados Unidos, Itália e até Japão. Em 2023, cerca de 12% dos visitantes eram estrangeiros. O complexo tem estrutura para 15 mil pessoas por noite, mas o acesso é controlado por ingressos numerados para garantir segurança e qualidade.
O espetáculo é religioso ou cultural?
É os dois. A STFN é uma entidade sem fins lucrativos, mas não é vinculada a nenhuma igreja. O espetáculo é baseado na Bíblia, mas é apresentado como arte popular. Muitos católicos o veem como uma forma de devoção, enquanto turistas e estudantes de teatro o consideram um monumento cultural único. Em 2024, o Ministério da Cultura o classificou como "Patrimônio Imaterial da Humanidade em processo de candidatura".
Como posso comprar ingressos para 2026?
Os ingressos serão vendidos a partir de janeiro de 2026, exclusivamente pelo site oficial da STFN e em pontos autorizados em Recife e Caruaru. Não há venda na porta. Os preços variam entre R$ 30 e R$ 150, dependendo da localização do assento. Crianças até 12 anos entram grátis, e idosos acima de 65 anos têm 50% de desconto. Em 2026, por causa do centenário, haverá uma edição limitada de ingressos "herança de Pacheco" — com certificado e mapa histórico do complexo.
Victor Degan
27 novembro, 2025 14:29Caraca, Dudu Azevedo vai ser Jesus? Tô emocionado. Ele já mostrou que consegue carregar peso emocional sem falar nada, tipo aquela cena de O Cangaceiro do Futuro quando ele olha pro céu depois que o irmão morre... É isso aí, o cara vai ser o Cristo de verdade, não só um ator disfarçado. A gente tá vendo teatro, mas tá sentindo fé. E isso é raro hoje em dia.
Se o espetáculo tiver o mesmo nível de produção de 2024, vai ser histórico. A gente vai caminhar junto com ele, suando no sertão, e quando ele cair com a cruz... vai ter gente chorando de verdade. Não é teatro, é ritual.
Se tiver um vídeo dos ensaios, me avisa. Vou até Brejo da Madre de Deus só pra ver ele treinando os passos. Esse papel não se aprende em aula de teatro, se aprende na alma.