Na manhã desta quinta-feira, 11 de dezembro de 2025, os moradores do Rio de Janeiro acordaram sob um céu pesado, com o ar quase opressivo. O calor não é apenas um incômodo — é um sinal de algo mais profundo. Enquanto alguns relatórios apontam máxima de 32°C, outros falam em 38°C. A diferença não é erro de medição. É o reflexo de uma cidade cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas. E com umidade relativa do ar oscilando entre 30% e 90%, o corpo humano simplesmente não consegue se adaptar. A chuva não vem com força, mas com persistência: rápidas pancadas que molham o asfalto e deixam o ar ainda mais pesado.
Variações nas previsões: por que tantos números diferentes?
É comum ver diferenças entre as previsões, mas nunca tão grandes. O O Povo estima máxima de 32°C e mínima de 24°C. Já o O Tempo fala em 38°C — quase 6 graus a mais. O AccuWeather fica no meio: 35°C. Essa disparidade não é aleatória. Cada plataforma usa modelos diferentes, sensores distintos e até algoritmos treinados com dados de áreas específicas. O que importa é o padrão: todos concordam que o dia será quente, úmido e com chuvas repentinas. A diferença está em quem vai sentir mais calor — e onde.
Detalhes do dia: o que o MetCheck revelou
Se você quer saber exatamente como será a manhã, o MetCheck foi mais preciso. Às 00h00, a temperatura era de 18°C, mas a sensação térmica já estava em 19°C. A umidade relativa do ar, em 77%, dava a impressão de que o ar estava carregado. Às 14h, a temperatura subiu para 35°C, a umidade caiu para 35% e os ventos, de apenas 12,87 km/h, não ajudavam em nada. A nebulosidade variou entre 46% e 89% ao longo do dia, com pancadas de chuva concentradas entre 11h e 15h. Nada de temporal, mas o suficiente para alagar bueiros e atrasar o trânsito na Zona Sul. O sol nasceu às 05h02 e se pôs às 18h32 — como sempre em dezembro. Mas o que antes era previsível, hoje é uma incerteza.
Água, calor e o mar que não resfria
Na Praia da Barra da Tijuca, os banhistas notaram algo estranho: a água estava mais fria do que o esperado. Segundo o Climate-Data.org, a média histórica da temperatura da água em dezembro é de 23,4°C. Em 2025, está em 22,8°C — um desvio de -0,6°C. Isso não parece muito, mas para o ecossistema marinho, é um alerta. O aquecimento global não afeta só o ar. Ele altera correntes, desloca nutrientes e afeta a vida marinha. E os cariocas que vão à praia todos os dias? Eles sentem. A água não está tão convidativa quanto antes. O calor no ar é intenso, mas o mar não está ajudando a aliviar.
Por que isso importa além do conforto?
Quando a umidade cai para 30% na tarde, a garganta seca, os olhos ardem, e o risco de incêndios urbanos aumenta — mesmo sem sol forte. Quando sobe para 90% pela manhã, o corpo não transpira direito. O organismo entra em estresse térmico. Isso não é só um problema de conforto. É um problema de saúde pública. Hospitais do Rio de Janeiro já relatam aumento de 18% nos atendimentos por desidratação e insolação nos últimos 10 dias. Crianças e idosos são os mais afetados. E não há sistema de alerta eficiente. A previsão é clara, mas a resposta da cidade? Tardia.
O que vem pela frente: sexta-feira e além
A sexta-feira, 12 de dezembro, promete ser pior. O O Povo prevê máxima de 30°C. O O Tempo fala em 37°C. A chuva, mais uma vez, será rápida, mas intensa. O padrão se repete: calor, umidade, chuva repentina. E isso não é coincidência. É tendência. Desde 2020, dezembro no Rio de Janeiro tem registrado médias acima de 26°C — 0,6°C acima da média histórica de 25,4°C. O que antes era exceção, agora é regra. E os modelos climáticos indicam que, até 2030, os dias acima de 35°C podem se tornar comuns em dezembro.
Como se proteger?
- Evite sair entre 11h e 16h — mesmo que esteja nublado.
- Use protetor solar, mesmo em dias chuvosos: os raios UV atravessam as nuvens.
- Beba água mesmo sem sentir sede. A sede é o último sinal de desidratação.
- Verifique vizinhos idosos. Eles não sentem o calor como antes.
- Evite atividades físicas ao ar livre. O corpo não consegue se resfriar com essa umidade.
Frequently Asked Questions
Por que a temperatura varia tanto entre as previsões?
Cada plataforma usa modelos meteorológicos diferentes, sensores em locais variados e algoritmos treinados com dados históricos específicos. O O Tempo pode estar usando dados de áreas mais urbanizadas, onde o efeito ilha de calor é mais intenso, enquanto o AccuWeather prioriza medições em zonas mais verdes. Isso explica a diferença de até 6°C entre os números.
A umidade do ar de 90% na manhã e 30% à tarde é normal?
É comum no Rio de Janeiro em dezembro, mas os extremos estão ficando mais intensos. A umidade alta à noite e pela manhã é típica por causa da evaporação do mar e da vegetação. Já a queda brusca à tarde, para 30%, é um sinal de ar seco e quente vindo do interior — um fenômeno que tem se acentuado nos últimos anos por causa da redução da cobertura vegetal e do aumento das temperaturas urbanas.
Por que a água do mar está mais fria se o clima está mais quente?
Isso parece contraditório, mas é explicado por correntes marinhas alteradas. O aquecimento global está deslocando massas de água mais frias do sul, que chegam à costa carioca com mais frequência. Além disso, o aumento da poluição e da turbidez da água reduz a absorção de calor solar. Embora o ar esteja mais quente, o mar não está respondendo da mesma forma — e isso afeta a vida marinha e a experiência dos banhistas.
Quais áreas do Rio sofrem mais com o calor extremo?
As regiões com menos vegetação e mais concreto, como a Zona Norte (Vila Isabel, Méier) e partes da Zona Oeste (Jacarepaguá), registram temperaturas até 5°C mais altas que áreas como a Zona Sul (Copacabana, Ipanema), que têm mais ventilação e áreas verdes. A falta de arborização urbana e o uso de materiais que retêm calor amplificam o efeito ilha de calor, tornando essas áreas perigosas para idosos e crianças.
O que o governo está fazendo para proteger a população?
Atualmente, não há um plano eficaz de resposta ao calor extremo. Apenas alertas genéricos são emitidos pela Defesa Civil do Rio, sem ações concretas como abertura de centros de resfriamento, distribuição de água ou horários alternativos para serviços públicos. Em comparação, cidades como São Paulo e Belo Horizonte já têm programas de proteção ao calor desde 2022. O Rio de Janeiro ainda está atrasado.
Essa sequência de dias quentes vai continuar?
Sim. Os dados do Climate-Data.org e da NASA mostram que o número de dias acima de 35°C em dezembro no Rio de Janeiro triplicou desde 2010. Se a tendência continuar, até 2030, pode haver até 20 dias por mês com temperaturas extremas. Isso não é apenas clima — é um novo normal.