Neste 12 de agosto de 2024, o Brasil se despede de uma figura marcante de sua história econômica: Delfim Netto, ex-Ministro da Fazenda, faleceu aos 96 anos. Ao longo de sua extensa carreira, Netto esteve na linha de frente das decisões econômicas que moldaram o país durante o regime militar, desempenhando um papel fundamental em momentos decisivos.
Nascido em 1º de maio de 1928, em São Paulo, Antonio Delfim Netto iniciou sua trajetória acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em Economia. Sua ascensão no cenário político e econômico brasileiro foi rápida. Em 1967, durante o governo do Marechal Costa e Silva, Netto foi nomeado Ministro da Fazenda, cargo que ocupou até 1974. Mesmo deixando o ministério, retornou ao mesmo posto em 1979, no governo de João Figueiredo, permanecendo até 1985.
A atuação de Delfim Netto foi especialmente significativa durante o período conhecido como 'Milagre Brasileiro', na virada das décadas de 1960 e 1970. Esse intervalo foi caracterizado por um crescimento econômico acelerado e impressionante, com taxas anuais superiores a 10%. O papel que Netto desempenhou na formulação e implementação de políticas econômicas que impulsionaram esse crescimento foi crucial.
Delfim Netto foi um defensor fervoroso de políticas fiscais conservadoras e de medidas de austeridade. Suas ações buscavam conter a inflação galopante e estabilizar a economia. Entre suas decisões mais notórias, está a introdução de vários pacotes econômicos, que incluíam controle de preços e salários.
Se por um lado, essas estratégias contribuíram para o crescimento econômico rápido e para a modernização das infraestruturas do país; por outro, atraíram críticas severas. Muitos críticos apontam que essas políticas aprofundaram desigualdades sociais e geraram um ambiente econômico que beneficiava apenas uma parte da população, deixando outros marginalizados. A relação próxima de Netto com os governos militares também levanta questionamentos sobre a legitimidade de suas decisões.
A expressão 'Milagre Brasileiro' refere-se ao período de crescimento econômico que Delfim Netto ajudou a arquitetar. No entanto, a natureza desse 'milagre' é alvo de intensas discussões até hoje. Muitos economistas e historiadores ponderam se o crescimento foi realmente sustentável e em que medida as políticas de Netto contribuíram para crises econômicas subsequentes, como a hiperinflação dos anos 1980.
Os críticos argumentam que o crescimento era superficial e baseado em empréstimos externos elevados, que mais tarde oneraram pesadamente a economia brasileira. O endividamento crescente seria um dos fatores que contribuiria para a crise da dívida na década de 1980, levando a uma era de estagnação e dificuldades econômicas.
Além de sua atuação direta na economia, Delfim Netto sempre foi um hábil negociador e mantenedor de relações com figuras importantes do cenário político. Durante e após seu período no governo, foi um conselheiro próximo a diversos presidentes e figuras influentes.
Ele manteve uma posição proeminente na cena política nacional, mesmo após o fim do regime militar. Sua capacidade de transitar entre diferentes administrações garantiu sua relevância e destacava seu papel como uma das mentes mais influentes da economia do país.
Com a notícia de sua morte, o legado de Delfim Netto volta a ser objeto de reflexão e debate. Muitos reconhecem sua habilidade e competência técnica, que foram fundamentais para implementar mudanças decisivas na economia brasileira. No entanto, sua associação com um período autoritário da história do país é um ponto sensível que não pode ser ignorado.
Em suma, Delfim Netto deixa um legado complexo e multifacetado. Suas contribuições para a economia brasileira são indiscutíveis, mas sua história está intrinsecamente ligada aos desafios e controvérsias de uma época marcada por profundas divisões políticas e sociais.
Neste momento, economistas, historiadores, políticos e a sociedade em geral refletem sobre o impacto de suas políticas e a marca que deixou na história do Brasil. O balanço de sua atuação permanece, até hoje, um tema sensível e discutido de maneira acalorada.