Tremembé: A série que reescreve os crimes mais chocantes do Brasil na prisão dos famosos nov 5, 2025

A estreia de Tremembé na Amazon Prime Video em 31 de outubro de 2025 não foi apenas um lançamento de série — foi um evento cultural que sacudiu o Brasil. Com apenas cinco episódios de 45 minutos, a produção já se tornou a mais assistida da plataforma no país, superando até Cangaço Novo. Mas o que torna Tremembé tão poderosa? Não é só o elenco estelar, nem a produção impecável. É o fato de que, por trás da ficção, há corpos reais, processos judiciais e vidas que ainda respiram — e que podem processar.

Do processo ao roteiro: como a ficção se alimenta da realidade

A série não inventou nada. Pelo menos, não totalmente. O núcleo criativo, liderado pela showrunner Vera Egito e pelo jornalista e co-roteirista Ullisses Campbell, se baseou em dois livros-reportagem: Suzane: Assassina e Manipuladora (2020) e Elize Matsunaga: A Mulher que Esquartejou o Marido (2021). Mas aqui está o detalhe crucial: eles não fizeram um documentário. Fizeram algo muito mais perigoso — uma dramatização que mistura fatos com liberdade criativa. "Estamos ficcionando, não fazendo documentário", afirmou Egito ao Splash. E isso é o que torna tudo tão delicado.

Os nomes dos protagonistas — como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, os irmãos Daniel e Christian Cravinhos, e Alexandre Nardoni — permanecem. Mas os coadjuvantes? São colagens. "Você tem uma coadjuvante inspirada em um crime real, mas com características de outra pessoa. Mudamos os nomes porque já estamos bastante comprometidos com os protagonistas reais", explicou Campbell. O objetivo? Não dar fama a quem não era famoso — e evitar novas ações judiciais.

Um acordo silencioso com a justiça

Após a vitória de Suzane von Richthofen contra a TV Globo em 2021, por uma série que retratou sua vida sem autorização, a Amazon Prime Video montou uma equipe jurídica exclusiva para revisar cada cena. Não foi só um protocolo. Foi uma operação de guerra contra processos. Cada diálogo, cada gesto, cada cena de violência foi analisado por advogados que sabiam: um erro, e a série poderia ser retirada do ar — ou gerar indenizações de milhões.

Essa cautela explica por que, apesar de retratar crimes que chocaram o país, a série evita qualquer tentativa de justificar ou glorificar os criminosos. A câmera não entra na cabeça de Suzane para mostrar seu "lado humano". Ela é apresentada como uma figura complexa — manipuladora, fria, mas também vítima de um sistema que a idolatrou e depois a condenou. A atuação de Marina Ruy Barbosa não é de vilã, nem de heroína. É de uma mulher que vive entre o que fez e o que se tornou.

Quem são os personagens reais por trás da tela

Suzane von Richthofen foi condenada a 39 anos por ordenar o assassinato dos pais, Manfred e Marisia von Richthofen, em 2002. Mas desde 2023, ela está em regime semiaberto. Casada, mãe de uma criança nascida em janeiro de 2024, e — segundo fotos nas redes sociais — estudante de direito. Nada disso aparece na série. Por escolha. "Nós não retratamos a vida pós-prisão. Só o que aconteceu dentro da Penitenciária II de Tremembé", diz Egito.

Elize Matsunaga, que esquartejou o marido em 2014, é retratada com uma precisão quase perturbadora. A cena em que ela lava o chão da cozinha após o crime — com o sangue ainda fresco — foi baseada em laudos periciais e depoimentos de policiais. Mas o que ninguém fala é que, na realidade, Elize nunca foi transferida para Tremembé. A série a colocou lá por razões dramáticas. "A prisão é um personagem. E Tremembé é o único lugar onde todos esses nomes se encontraram", explica Campbell.

Outros nomes que aparecem — como os Cravinhos e os Nardoni — são tratados com o mesmo cuidado. Daniel Cravinhos, por exemplo, é mostrado como um jovem vulnerável, manipulado por Suzane. Na vida real, ele foi condenado à mesma pena que ela. Mas a série não explora sua possível reabilitação — porque ainda não existe. Ele continua preso. E isso importa.

Por que Tremembé é mais que uma série de crimes

Por que Tremembé é mais que uma série de crimes

O que faz Tremembé única é sua estrutura quase antológica. Cada episódio é uma história independente, mas conectada pelo mesmo espaço: a Penitenciária II de Tremembé, em São Paulo. Lá, convivem criminosos famosos e anônimos, vítimas da mídia e da justiça. A série mostra como o sistema prisional brasileiro transforma nomes em lendas — e como a cultura pop alimenta essa transformação.

É um espelho. Quando a mídia transforma um assassino em ícone, a sociedade se esquece da vítima. E quando a ficção reconta essas histórias, ela pode reescrever a memória coletiva — ou reforçá-la. A equipe de Tremembé sabe disso. Por isso, evita o sensacionalismo. Não há cenas de tortura, nem close em sangue. O horror está na quietude. No silêncio entre os presos. No olhar de Suzane quando alguém chama ela de "princesa".

O que vem depois? Um universo sem fim

Até 5 de novembro de 2025, a Amazon Prime Video ainda não anunciou uma segunda temporada. Mas os sinais são claros: mais de 3 milhões de visualizações nas primeiras 72 horas, mais de 1,2 milhão de menções nas redes sociais e um banco de dados prisional cheio de histórias inexploradas. A Penitenciária II de Tremembé abriga mais de 40 casos de alto impacto — e apenas cinco foram tocados.

Na próxima temporada, poderíamos ver a história de Anna Jatobá, a madrasta de Isabella Nardoni, ou de Rafael Braga, o ex-policial que matou a namorada e escondeu o corpo em uma geladeira. Ou até mesmo a de alguém que ninguém conhece — mas cujo crime mudou uma cidade inteira.

Se houver uma nova temporada, o modelo será o mesmo: nomes reais, histórias reais, mas com o cuidado de não confundir ficção com realidade. Porque, no fim, o que importa não é o que aconteceu. É o que a gente faz com essa memória.

Frequently Asked Questions

Tremembé é baseada em fatos reais ou é totalmente fictícia?

A série é uma mistura. Os protagonistas — como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga — são reais, e seus crimes foram documentados em processos judiciais. Mas os diálogos, cenas e personagens secundários são ficcionais. A equipe usou autos do Ministério Público e depoimentos públicos, mas recriou o ambiente prisional para criar tensão dramática, não para documentar a realidade.

Suzane von Richthofen processou a série por causa da representação?

Não há registros de ação judicial até agora. A equipe evitou contato direto com ela e seus familiares, e a Amazon montou uma equipe jurídica exclusiva para garantir que nenhum trecho pudesse ser interpretado como difamação. A série não retrata sua vida pós-prisão — apenas os eventos dentro da Penitenciária II de Tremembé — o que reduz drasticamente riscos legais.

Por que a série mudou os nomes de alguns personagens?

Para não dar fama a criminosos menos conhecidos. Por exemplo, um personagem secundário pode ter traços de um assassino de Minas Gerais, mas usar o nome de um preso de São Paulo. Isso permite que a narrativa explore crimes emblemáticos sem transformar figuras obscuras em ícones da mídia — uma estratégia que evita exploração e riscos legais.

A Penitenciária II de Tremembé realmente abriga tantos criminosos famosos?

Sim. Conhecida como "presídio dos famosos", a unidade de Tremembé, em São Paulo, é onde são encarcerados criminosos de alto perfil, como Suzane, Elize e os Cravinhos. Muitos deles foram transferidos por segurança ou por decisão judicial. A unidade é um microcosmo da justiça brasileira, onde fama, violência e impunidade se cruzam.

Existe chance de uma segunda temporada?

Ainda não foi confirmada, mas os indicadores são fortes: foi a série mais assistida da Prime Video no Brasil em menos de uma semana. Com dezenas de casos reais ainda não explorados — como o de Anna Jatobá e o de Rafael Braga — a estrutura "antológica" da série permite novas temporadas com novos protagonistas, mantendo o mesmo universo prisional.

A série glorifica os criminosos?

Não. Ao contrário. A série evita qualquer tentativa de romantizar os crimes. Não há música emocionante durante os assassinatos, nem close em lágrimas que inspire compaixão. O foco está na frieza, na manipulação e no sistema que os criou. O horror não está no sangue — está na banalidade com que os personagens lidam com o que fizeram.

Graziela Barbosa

Graziela Barbosa

Sou jornalista especializada em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários do Brasil. Sempre busco trazer um olhar crítico e informativo, prezando pela autenticidade e clareza. Meu trabalho é movido pela paixão em informar e pela necessidade de fomentar o debate público.

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12 Comentários

  • Leandro Fialho

    Leandro Fialho

    7 novembro, 2025 04:57

    Tremembé não é só série, é um espelho que a gente não quer olhar. O sistema prisional brasileiro é isso aí: um circo onde os criminosos viram ícones e as vítimas viram fundo de cena. A série não glorifica, ela expõe. E isso é mais assustador que qualquer cena de sangue.

  • Willian de Andrade

    Willian de Andrade

    7 novembro, 2025 23:23

    acho que a parte mais forte é quando a suzane escuta "princesa" e nem reage. isso fala mais que mil diálogos.

  • Thiago Silva

    Thiago Silva

    8 novembro, 2025 12:09

    eu juro que chorei na cena do chão da cozinha da Elize. não por compaixão, mas porque era tão normal pra ela. tipo, ela lavou o chão como se tivesse derrubado um copo de suco. isso é o horror real.

  • Jailma Andrade

    Jailma Andrade

    9 novembro, 2025 16:35

    É importante lembrar que essas pessoas são mais do que seus crimes. Mas a série não nos deixa esquecer que elas também não são vítimas. É um equilíbrio difícil, e eles acertaram. Não há justificativa, só compreensão. E isso é raro.

  • Rayane Martins

    Rayane Martins

    10 novembro, 2025 23:49

    Se a série colocou Elize em Tremembé mesmo ela não tendo sido transferida, isso é manipulação. Não é arte, é propaganda. A verdade não precisa de dramatização.

  • Eduardo Mallmann

    Eduardo Mallmann

    12 novembro, 2025 11:29

    A dramatização, quando baseada em fatos reais, exerce uma responsabilidade ética que transcende o entretenimento. A escolha de não retratar a vida pós-prisão, embora estratégica, é também uma forma de respeito à dignidade das vítimas, cujos nomes não são comercializados, cujas memórias não são apropriadas para o consumo de massa. A série opera como um contraponto à cultura da celebração do crime, e isso é revolucionário.

  • Timothy Gill

    Timothy Gill

    13 novembro, 2025 14:03

    ficção baseada em realidade é sempre perigosa porque a gente esquece que a realidade não tem roteiro e não tem climax e não tem trilha sonora e não tem ator que chora direito e a gente começa a achar que o que a gente vê é a verdade mas a verdade é mais feia e mais sem sentido e não tem nem final feliz nem final triste porque simplesmente acabou

  • gustavo oliveira

    gustavo oliveira

    14 novembro, 2025 17:29

    se tiver segunda temporada, coloca o caso do Rafael Braga. Esse é o mais assustador. Ele matou a namorada e guardou o corpo na geladeira por meses. E ninguém sabia. A gente vive com gente assim no prédio. É assustador.

  • Bruna Oliveira

    Bruna Oliveira

    14 novembro, 2025 22:45

    É uma obra de arte contemporânea que desafia a moralidade da mídia. A Penitenciária II de Tremembé é o último templo da cultura de massa brasileira, onde o crime se torna liturgia. A série não apenas retrata, ela ritualiza. E isso é profundamente perturbador. É o pós-modernismo em forma de drama jurídico.

  • Willian Paixão

    Willian Paixão

    16 novembro, 2025 03:27

    Eu achei incrível como a série evitou o sensacionalismo. Muita gente esperava cenas de tortura, gritos, sangue. Mas o silêncio, os olhares, o jeito que os presos se olham... isso dói mais. É uma lição de humanidade. A gente precisa parar de ver essas pessoas como monstros e começar a entender como elas chegaram ali.

  • Sandra Blanco

    Sandra Blanco

    17 novembro, 2025 05:53

    Isso tudo é errado. Eles estão transformando assassinos em celebridades. Isso vai ensinar as crianças que matar é uma forma de ficar famosa.

  • David Costa

    David Costa

    18 novembro, 2025 21:41

    É curioso como a série escolheu Tremembé como cenário. A prisão é, de fato, o epicentro da cultura criminosa brasileira moderna. Lá, o famoso e o anônimo convivem em um espaço onde o tempo parece parado, mas a memória coletiva se acelera. A série não é sobre crimes - é sobre como a sociedade transforma o horror em mito. E isso é mais perigoso do que qualquer assassinato. Porque enquanto o corpo se apaga, o mito cresce. E aí, quem é o verdadeiro criminoso? O que matou? Ou o que esqueceu de se lembrar?

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